Conheça mais sobre a importância da agricultura gaúcha e os impactos das enchentes no mercado.
Desde o dia 29 de abril, o estado do Rio Grande do Sul sofreu muitas perdas devido às enchentes que o acometeram. Muitas dessas perdas são irreparáveis, como a vida de mais de uma centena de pessoas, além de danos significativos a unidades fabris, comércios, propriedades rurais e animais.
Falando no mercado agrícola, os impactos não foram diferentes, pois o RS é um estado produtor das principais culturas brasileiras, entre elas a soja, o arroz e o milho.
O time de especialistas da Cibra realizou um levantamento preliminar das projeções do setor agrícola e do mercado de fertilizantes do RS, relacionados aos efeitos das enchentes na agricultura do estado.
Culturas e representatividade no mercado
O estado do Rio Grande do Sul é líder na produção de arroz, trigo e tabaco, além de consumir grande parte dos fertilizantes no país.
Arroz
O Rio Grande do Sul lidera o Brasil com a maior área plantada de arroz, abrangendo 59% do total destinado a essa cultura no país. O estado também é o maior produtor brasileiro de arroz, contribuindo com 72% da produção nacional. Em relação ao uso de fertilizantes para o cultivo de arroz, o RS consome 56% do total destinado a essa cultura.
Trigo
O Rio Grande do Sul destaca-se nacionalmente com a maior área plantada de trigo, abrangendo 47% do total destinado a produção no Brasil. O estado também lidera a produção brasileira de trigo, responsável por 54% do total. Em relação ao mercado de fertilizantes voltado para o cultivo de trigo, o RS é comprador 46% da produção.
Tabaco
No Brasil, o Rio Grande do Sul é líder na área plantada de tabaco, que corresponde a 46% da área total da cultura no país. A produção de tabaco do estado é a maior, representando 52% do total no mercado brasileiro. Quando se trata de fertilizantes para o cultivo de tabaco, o RS consome 45% do total nacional.
Soja
O Rio Grande do Sul possui a segunda maior área plantada de soja no Brasil, com 15% do total nacional. A produção de soja no estado também é a segunda maior do país, correspondendo a 14% da produção nacional. No mercado de fertilizantes para a cultura da soja, o RS consome 15% do total ofertado no Brasil.
Milho
O Rio Grande do Sul ocupa a sexta posição em termos de área plantada de milho no Brasil, representando 4% do total destinado à cultura no país. A produção de milho no estado é a sexta maior do Brasil, equivalente a 5% do total. Em relação ao uso de fertilizantes para o cultivo do grão, o RS chega a consumir 4% do insumo nacional.
O impacto das enchentes no estado
De acordo com o último boletim da Defesa Civil do estado, 478 municípios do Rio Grande do Sul foram afetados pelas enchentes.
Segundo relatório do EMATER/RS, 206 mil propriedades rurais foram atingidas, com baixas na infraestrutura de 19 mil famílias ligadas ao meio rural e um impacto em 200 agroindústrias da região.
Até a metade de maio, por volta de 337 destes municípios, que representam 5,2% do PIB brasileiro, foram classificados com os níveis mais graves de acometimento: inundações, situações de calamidade e alto impacto devido às chuvas.
Distribuição Regional das Principais Culturas Agrícolas no RS
Na região Noroeste e Centro Ocidental do estado, estão localizados 3,9 milhões de hectares das plantações de soja, equivalente a 63% da produção do grão no Rio Grande do Sul e representando 10% da soja brasileira.
Na região Noroeste, também muito impactada, estão localizados 754 mil hectares das plantações de trigo do estado, o que representa 61% da produção do Rio Grande do Sul, com uma participação de 27% de todo o trigo nacional.
O arroz, localizado nas áreas Sudoeste e região Metropolitana de Porto Alegre, ocupa 618 mil hectares, o que representa 65% da produção gaúcha, equivalente a 37% da produção nacional.
Já o milho, na região Noroeste e Nordeste gaúcha, representa 63% da produção no estado, com uma área de 489 mil hectares, refletindo em 2% da produção brasileira.
Riscos nas produções de soja, arroz e milho
Boa parte das colheitas são feitas ao longo do ano, de acordo com a época do plantio, aproveitando os ciclos das safras brasileiras.
Com o início das enchentes, começaram as preocupações no abastecimento de soja, arroz e milho. O atraso na colheita ou as dificuldades causadas na cadeia de produção podem gerar impactos no Brasil e no mundo. Conheça o tamanho dos efeitos para estas culturas:
Soja
- Área não colhida: 1,7 milhões de hectares
- Produção não colhida: 5,3 milhões de toneladas
- Representatividade na produção BRA: 4% (CONAB)
- Representatividade global: 1,3% (USDA)
- Produtividade estimada: 3,1 toneladas/hectare
- Segundo dados levantados pela CONAB, os impactos da chuva podem gerar uma queda de 3,4% na produção.
Arroz
- Área não colhida: 153 mil hectares
- Produção não colhida: 1,2 milhões de toneladas
- Representatividade na produção BRA: 12% (CONAB)
- Representatividade global: inexpressivo frente à produção mundial
- Produtividade estimada: 8,1 toneladas/hectare
- Segundo dados levantados pela CONAB, os impactos da chuva podem gerar uma queda de 2,7% na produção
Milho
- Área não colhida: 138 mil hectares
- Produção não colhida: 800 mil toneladas
- Representatividade na produção BRA: 4% na produção em 1ª safra (CONAB)
- Representatividade global: inexpressivo frente à produção mundial
- Produtividade estimada: 8,1 toneladas/hectare
- Segundo dados levantados pela CONAB, não deverão haver impactos significativos na produção do estado.
Mercado de fertilizante
Os municípios afetados pelas enchentes consomem cerca de 64% dos fertilizantes destinados ao estado. Isso também representa 7,3% do insumo consumido no Brasil.
No ranking dos estados consumidores de fertilizante, o RS está em segundo lugar. O RS é o terceiro estado que mais importa fertilizante no Brasil. Graças ao sistema portuário da região, ele representa 17% da importação nacional.
Segundo dados preliminares, o mercado de fertilizantes pode ter perdido mais de 1,5 milhão de toneladas nas inundações ocorridas nas unidades industriais.
Impactos e riscos
Nossa equipe de dados de mercado definiu alguns riscos e impactos causados pela catástrofe no RS, considerando o curto, médio e longo prazo.
Curto prazo
- Perda de animais
- Perda de colheitas
- Solos danificados
- Impacto na mão de obra
- Impacto imediato na renda dos produtores
Médio prazo
- Estradas, pontes e armazéns danificados, dificultando o escoamento da produção com aumento dos custos de transporte
- Instabilidade no fornecimento de energia e água, impactando a produção de alimentos
- Dificuldade de honrar com os compromissos financeiros
Longo prazo
- Desvalorização de terras
- Aumento de pedidos de recuperação judicial
- Possível mudança na geografia das culturas
Considerações
O produtor gaúcho vinha de duas quebras de safra (2021 e 2022), em decorrência das secas causadas pelo fenômeno El Niño.
Ainda fragilizado, a expectativa para a safra 2023/2024 era de recuperação dos anos anteriores. Infelizmente, as enchentes acabaram impactando negativamente o cenário agricultor do estado.
Além das perdas imediatas, a recuperação das áreas afetadas e a reestruturação das cadeias produtivas demandarão investimentos significativos e tempo.
Os produtores enfrentarão desafios adicionais para restabelecer suas operações e garantir a segurança alimentar regional e nacional.
O setor agrícola, juntamente com órgãos governamentais e entidades privadas, precisará unir esforços para mitigar os impactos a longo prazo e promover ações de suporte aos agricultores afetados, assegurando a continuidade da produção e a sustentabilidade econômica do estado.