Como os biocombustíveis estão transformando o agro e garantindo bilhões ao Brasil
Enquanto o mundo se volta para a transição energética e se prepara para a COP30 em novembro, os biocombustíveis despontam como uma peça-chave no agronegócio brasileiro.
No Brasil, o campo não gera apenas alimentos – gera também energia renovável. Para produtores, empresas e investidores, entender esse movimento significa enxergar uma nova fronteira de negócio.
Essa é a nossa proposta neste artigo: mostrar quanto o setor representa em faturamento, quais são as principais fontes de matéria-prima agrícolas, como o governo brasileiro incentiva sua expansão e quais tendências vêm pela frente.
BIOCOMBUSTÍVEIS MOVIMENTANDO O AGRO BRASILEIRO
O agronegócio brasileiro já é gigante: exportação de grãos, carnes, oleaginosas, produção em grande escala em diversos estados. Os biocombustíveis são uma extensão estratégica dessa cadeia produtiva já tão consolidada.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os biocombustíveis estão no centro da matriz energética renovável do Brasil. E uma nota técnica da RenovaBio – Política Nacional de Biocombustíveis – aponta que o setor tem potencial para gerar mais de 1 milhão de empregos diretos no Brasil até 2030.
Por que isso importa para o agronegócio?
- O produtor de biomassa ou culturas como soja, cana e milho passa a não depender apenas da venda para a cadeia alimentar ou exportação – há também demanda para energia.
- A indústria agrícola relacionada (insumos, máquinas, logística) ganha uma nova rota de crescimento.
- A sustentabilidade entra em foco: com clima favorável e escala, o Brasil pode se tornar exportador de energias renováveis agrícolas.
Embora seja difícil encontrar um número único que some todo o faturamento dos biocombustíveis no agronegócio, as estimativas sugerem que a integração entre agro e energia está escalando rapidamente – e com impacto real.
PRINCIPAIS FONTES DE MATÉRIA-PRIMA NO AGRO PARA BIOCOMBUSTÍVEIS
A produção de biocombustíveis depende essencialmente de biomassa agrícola ou dos resíduos dela. No Brasil, destacam-se algumas matérias-primas:
Soja: principal oleaginosa utilizada na produção de biodiesel no Brasil, por sua escala de plantio e infraestrutura existente.
Cana-de-açúcar: para etanol, biomassa e bioeletricidade, a cana já é tradicional no Brasil – o setor sucroenergético gera não só etanol, mas energia elétrica a partir da biomassa, integrando campo + bioenergia.
Milho: nos últimos anos, o milho vem ganhando destaque como matéria-prima estratégica para o etanol de segunda geração, contribuindo para a interiorização da produção e o aproveitamento de grãos excedentes.
Biomassa secundária e resíduos agrícolas: a Embrapa destaca que o Brasil possui uma grande biodiversidade e diversas plantas energéticas potenciais (como mamona, pinhão-manso, macaúba) para diversificar a matéria-prima para biodiesel e biocombustíveis avançados.
INCENTIVOS DO GOVERNO E POLÍTICAS PÚBLICAS
A expansão dos biocombustíveis no Brasil não é casual – ela é orientada por políticas públicas e incentivos estruturados.
- O programa RenovaBio, instituído pelo governo brasileiro, tem como meta aumentar a produção de biocombustíveis e reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE).
- Em junho de 2025, a EPE publicou uma nota técnica que pretende harmonizar os programas RenovaBio e Programa Mover (Mobilidade Verde), em consonância com a Lei do Combustível do Futuro (14.993), que estabelece mandatos de mistura maiores para etanol e biodiesel.
- Segundo a EPE, a intensificação desses incentivos poderá gerar queda de quase 10% na intensidade de carbono do transporte rodoviário brasileiro até 2034 – impulsionada por biocombustíveis.
Para o agronegócio, esses incentivos significam:
✓ Maior previsibilidade de demanda para matérias-primas de biocombustível.
✓ Necessidade de certificação, rastreabilidade e práticas sustentáveis para aproveitar os incentivos.
✓ Possibilidade de capturar “prêmios” por produzir matérias-primas com perfil de baixa emissão ou integradas a cadeias verdes.
SUSTENTABILIDADE E DESAFIOS AMBIENTAIS
A dimensão sustentável dos biocombustíveis é essencial. Quando bem geridos, os biocombustíveis podem reduzir significativamente as emissões de GEE em relação aos combustíveis fósseis. Estudos da EPE mostram que adições de biodiesel + diesel contribuíram para melhoria da qualidade do ar e redução de emissões.
No Brasil, a vantagem é potencialmente maior devido ao clima favorável, à escala, à experiência em agroenergia (como etanol de cana) e à integração do agro com energia.
O QUE VEM POR AÍ: TENDÊNCIAS E O FUTURO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS
Com a COP30 à vista, o foco global está em descarbonização, em energias renováveis e em cadeias sustentáveis – e o Brasil pode se posicionar como protagonista.
Tendências
Biocombustíveis de segunda geração (2G) ou avançados: utilização de resíduos agrícolas, capins, lignocelulósicos, que não competem diretamente com alimentos. A Embrapa e a EPE apontam para essa rota como uma das grandes oportunidades.
Aumento das misturas obrigatórias (exemplo: biodiesel + diesel): estudo da EPE mostra que a intensidade média de carbono da matriz de transporte rodoviário poderá cair de 72 g CO₂ eq/MJ para 65,5 g até 2034, graças aos biocombustíveis.
Exportação de biocombustíveis ou de matérias-primas com baixo carbono: o Brasil possui vantagem competitiva e poderá ganhar mercado global se fortalecer a cadeia, rastreabilidade e certificações de sustentabilidade.
Integração com outros setores: bioeletricidade, biometano, bioquerosene (combustível de aviação sustentável) e uso de resíduos agrícolas entram na pauta. A Embrapa destaca que o setor precisa diversificar insumos e incluir pequenos agricultores para ampliar a base.
O que o agronegócio brasileiro deve antecipar
- Prepare-se para exigências de rastreabilidade, certificação de baixo carbono e práticas sustentáveis. Quem não estiver pronto pode ficar de fora do “mercado premium”.
- Avalie novas culturas ou uso de resíduos agrícolas para gerar valor agregado. Diversificar é, de fato, reduzir risco e abrir oportunidades.
- Invista em infraestrutura logística, armazenamento, transporte e integração com indústrias de biocombustível ou energia. A cadeia “campo à bomba” precisa de fluidez para entregar os benefícios projetados.
- Fique atento aos marcos regulatórios nacionais e internacionais: os compromissos da COP30, as políticas brasileiras de mistura de combustíveis, os mercados de carbono podem alterar radicalmente o cenário nos próximos 5-10 anos.
CONCLUSÃO
A convergência entre agronegócio e biocombustíveis é mais que uma tendência – é realidade no Brasil. Com escala agrícola, clima favorável, políticas de incentivo e know-how no agro, temos uma oportunidade única de transformar o campo também em um gerador de energia renovável e de baixo carbono.
Para produtores, indústrias agrícolas e investidores, entender esse setor significa enxergar uma nova rota de crescimento, que une renda, inovação e sustentabilidade. E com a COP30 no horizonte, o tempo de atuar é agora.
Referências
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. RenovaBio: Biocombustíveis 2030 – Nota Técnica. Brasília, DF: MME, 2017. Disponível em: https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/renovabio. Acesso em: 22 out. 2025.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Biocombustíveis e matérias-primas agrícolas. Brasília, DF: Embrapa, 2024. Disponível em: https://www.embrapa.br/. Acesso em: 22 out. 2025.
EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE). Balanço Energético Nacional 2024. Rio de Janeiro: EPE, 2024. Disponível em: https://www.epe.gov.br/. Acesso em: 22 out. 2025.
UNIÃO NACIONAL DO ETANOL DE MILHO (UNEM). Relatório Anual 2024. Brasília, DF: UNEM, 2024. Disponível em: https://unem.org.br/. Acesso em: 22 out. 2025.
BRASIL. Serviços e Informações do Governo Federal. Setor Sucroenergético e Bioeletricidade. Brasília, DF: Governo Federal, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/servicos/biocombustiveis. Acesso em: 22 out. 2025.








